quinta-feira, 6 de março de 2008

Ritual...


Inevitável. Há anos esse ritual se repete. E não importa se ele ou ela estão namorando. Simplesmente não conseguem fugir. Ela costuma dizer que ele não é 'tão maravilhoso assim'. Ele se conforma em pensar que isso já faz parte de sua vida.
Inconfundível. Ela chega à cidade, ele a vê pelas ruas. Começam então as mensagens, as ligações de madrugada. Na primeira festa em que se encontram e na qual passam a noite inteira fingindo que não se notam, é só esperar o final. Em um desses finais de festa, eis que se encontram novamente. Ele vem com o mesmo papo de carona. E ela com o mesmo sorriso de 'sei bem o que isso significa'. Depois de se livrarem das possíveis interferências, entram no carro e vão pro lugar de sempre. É como um filme que a gente vê várias vezes e não cansa. É como aquela música que a gente já decorou o refrão.
Indeterminável. O engraçado é que jamais trocam impressões sobre suas vidas. Sequer falam de suas 'situações amorosas' ou da vida profissional. É uma coisa meio maluca. Encontros furtivos em madrugadas geladas. Sem muitas expectativas, sem nenhuma cobrança.
Inexplicável. Não há qualquer necessidade de se explicarem. O que existe ali é a liberdade que cada um cultiva em si. A liberdade do segredo bem guardado. Sem pressa, sem falatório, sem mentiras, sem planos. É o momento em que o mundo lá fora simplesmente não importa e as criaturas que nele habitam estão completamente absortas em seus sonos e sonhos.
Inestimável. No quarto há algumas evidências de presença feminina recente. E freqüente. Ela finge que não vê porque realmente não interessa. Ele mostra os novos peixes do aquário porque sabe que aquele aquário a fascina. E ele adora observar ela olhando com interesse. Parece que aquilo é tão ela... É tão dela. Ninguém mais nota o aquário. Ele então sorri um sorriso leve e despreocupado. Como se, com seus sorrisos, dissesse tudo o que ela precisa ouvir. Ela devolve com olhares sinceros. Aqueles olhares de cumplicidade em que não há malícia, nem maldade, nem compromisso.
Inflexível. Ela acha tudo muito divertido. Ele acha tudo muito perigoso. Ela está ali por diversão e ele, por aventura. A clandestinidade tem diversas faces. Diversão e aventura são sensações que viciam. Ele acaba se divertindo com ela e ela, se aventurando com ele. É uma troca, como qualquer relação.
Indecifrável.
- Sabe, eu penso que um dia a gente vai acabar casando...
- Pode até ser... Mas quem é que vai querer casar com a gente?


** sobre o post anterior:

1. Sim, aconteceu mesmo!

2. O cigarro é só pra momentos de desespero, e era o caso.

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