quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Só um?


Acho que a gente cresce com essa idéia. Talvez sejam as revistas adolescentes (na minha época eram a Carícia, a Querida e a eterna Capricho). Os filmes românticos e as novelas também nos fazem acreditar. Ah, também tem os contos de fadas... Talvez nossas avós, nossas mães, as tias mais velhas... Sei lá, mas em algum momento é interiorizado em nós que só há um amor pra se viver nessa vida.
Sim, paixões pode haver várias... Mas amor, aquele de verdade, que arrebata a existência, que aquece o coração, que eleva a alma, que faz bem ao corpo e à cabeça. Esse só acontece uma vez. Por isso esperamos pelo príncipe encantado, lindo, dócil, gentil, carinhoso, altruísta, compreensivo, educado, atencioso, simpático, sincero, franco, leal, fiel, caridoso, solidário.
Ele não vem (claro, porque esse aí nem existe no planeta Terra), mas a gente acaba achando alguém que, após algumas (nem sempre leves) concessões, se encaixa ao que idealizamos em um amor verdadeiro. A gente então abre mão de algumas características, e explica pras pessoas que ele é humano, é homem, é um pouco infantil em relação a nós, tem algumas prioridades que são, na maioria das vezes, masculinas, como carreira, carrão, grana no bolso.
Então deixamos de lado aquela idéia do combo “construir nosso futuro juntos - planejar nossas viagens - projetar nosso lar – fazer economias que garantam nosso futuro”. Afinal, eles acabam convencendo a gente de que é melhor assim. Sonhar junto é coisa de mulherzinha romântica.
E nos entregamos por completo, somos arrebatadas. Todos os amigos percebem a luz no olhar, o sorriso nos lábios. E sentimos o calor dentro da gente, o coração em festa e a alma flutuando.
"É ele! O único amor da minha vida. O amor que eu sempre quis e esperei."
À medida que o tempo passa, porém, percebemos que as coisas tomam um rumo estranho. Que o esforço para manter tudo nos trilhos é unilateral. E pior, é do nosso lado. Protestamos essa idéia, a afastamos da cabeça em algumas noites de insônia, tentamos contornar a situação com lealdade, fidelidade, gentileza, altruísmo, compreensão...
Só que chega uma hora em que não dá mais. É triste reconhecer o fracasso de um amor que nos custou muito para dar certo. Que nos custou a vida toda pra encontrar. E o problema não está nele. Ele sempre foi assim. Ele é humano, não é? Quem mudou pra que tudo desse certo fomos nós. Mas quem somos nós mesmo? Quando foi que nós nos perdemos? E onde foi que ficamos?
Não importa. “Meu bem, o problema não é você. Sou eu.”
E então começa tudo de novo. Porque a vida é cíclica, afinal de contas.

- Ei, mas peraí... Cadê aquele papo de que só há um amor pra se viver na vida?
- Hi... não sei. Mas eu confesso que nunca acreditei muito nesse papo. Um só? Ah, não! Eu já tô na quinta tentativa. É que eu sempre li Vinícius de Moraes... desde a adolescência.


Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

(Vinícius de Moraes - Para viver um grande amor
(crônicas e poemas) Rio de Janeiro . Editora do Autor. 1962)

11 comentários:

P. disse...

... e eu chorei, claro.

Anônimo disse...

Na quinta tentativa??? Hahahahaha, que inveja, eu ainda não saí da primeira, rsrsrs. E olha que também li Vinicius na Universidade à exaustão. E também morro de inveja dele, rsrsrs.
Você colocou tudo no seu post. Está exato, completo, não falta nada. É isso mesmo, Mary, quando a ficha cai, aí desmorona tudo, e a gente fica tentando juntar um pouquinho aqui e outro lá, pra ver se remenda ou pelo menos, conserva um pouco do que ainda é possível.
Menina, você escreve muito bem! Adorei ler isso!

Beijos!

Viiii disse...

Que lindo, Mary.
É verdade tudo isso que você colocou. Somos complexos demais, eu tenho tentado entender isso, mas começo a achar que o esforço é inútil, afinal estamos em constante mudança. "Mas quem somos nós mesmo? Quando foi que nós nos perdemos?"... Eu entendo isso como uma longa estrada, nós vamos percorrendo, e naquele instante parece que nada muda, quer dizer, estamos percorrendo...E esssas dúvidas aparecem quando chegamos ao destino, não conseguimos entender bem o processo, só sabemos que estamos ali e que teremos de nos ajustar, encontrar novas maneiras de encarar a situação...
Que coisa complicada, né?
Beijos e ótimo texto!!!

Jacinta Dantas disse...

Um único amor?
ai meu Deus, a gente vai vivenciando, ao longo da vida, vários jeitos de amar. E, menina, estamos meio empatadas na tentativa e erro. Numa dessas a gente acerta. Mas que disse que cada tentativa não é Amor, se em cada uma delas se deposita a esperança de que seja para sempre. E é, pois "é eterno enquanto dura"
Beijão moça.
Estou adorando te ver de volta.

Jacinta Dantas disse...

Mary,
mande seu e-mail para mim:
jacintadantas@bol.com.br

Alex disse...

Minha linda, é aquela coisa na qual acredito como se brotasse da minha essência: se não aconteceu, não era para acontecer. Todo esforço vão sobre algo que não muda precisa ser do jeito que está, por isso sua natureza sólida e invariável, imutável. Acredito no amor como amplidão de tudo o que nos toca na vida, e aquele grande amor, aquela outra metade da alma, da laranja, do legume, do coração e afins, esta chega se gente deixar que chegue.

Um beijo e outro.

Letícia Alves disse...

Bem,gostei muito do seu texto, como tudo que escreve.
Você já está na quinta???? aff...
Eu nem conheci o primeiro amor ainda, ahhhhhhhhhh e já estou subindo a serra, será que ainda existe?
Beijos Tempestuosos!

Antônio Dutra Jr. disse...

Maravilhoso... Porém, ainda estou teimoso demais para desistir do primeiro. Sabe Deus até onde vai essa odisséia que já me tomou um terço da vida.

Beijo, Mary, tu tá cada vez melhor!

Ro disse...

Oi, gostei da foto do seu perfil, ai cheguei aqui e gostei do blog também... Pois é, amor a gente não sabe o que é bem, nos levamos pela velha história de que será único e eu nem sei mais no que acreditar...Mas enfim, acho que a gente não pode mesmo é deixar de sonhar...

Beijos!

Leonardo Xavier disse...

Bem Hollywoodiana essa fantasia do único amor verdadeira na vida. E eu acho que isso é até nocivo pelo tanto de expectativas que a gente acaba impondo ao outro. Eu acho que todo mundo sempre quer que o outro seja perfeito, mas nunca quer se esforçar em ser perfeito para o outro.

Carolina disse...

Não acredito em UMA alma gêmea, acredito que no decorrer do tempo surge várias em nossas vidas, cada um com destino e tempo reservado. Depois é shutdown.
Sendo assim, amores verdadeiros acontecem várias vezes na nossa caminhada.
E que venha eles porque amar com "saúde", sabendo qdo começar e qdo é hora de ir adiante são os mais gostosos.
Já tive alguns príncipes e outros sapos tbém.

bjos queridos pra ti!

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