
Engraçado como chegamos a esse ponto. Só que a mim agora, resta usar de todas as armas pra te elevar. Porque gosto de ti. Porque abraço tua causa. Porque, de algum modo, estamos no mesmo bote. E te digo Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? Entretanto, tu és resistente. E tenho que insistir o tempo todo. Chamo a tua atenção. Transformo-me em teus olhos, teus ouvidos, tuas mãos, tua voz. E grito! Porque é de gritos que precisas. Pra colocar pra fora isso tudo que te sufoca. O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". E sabe o que eu farei no momento em que me deres a entender que tu estás livre? Irei sorrir o meu melhor sorriso. Darei a minha maior gargalhada de felicidade. Encherei meus olhos de lágrimas. Porque tenho pensado tanto em te ver feliz... em te ver sorrindo, cantando, dançando... livre afinal! De todo modo, sabemos que as coisas acabam e começam e acabam e começam em um ciclo interminável. Não podemos falar que nunca mais vai acontecer, que seremos livres e felizes pra sempre. Mas no momento em que te souber finalmente 'contente outra vez', ficarei igualmente contente. Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". E eu te falo de uma coisa que eu cultivo no dia a dia. E tu falas que tens exercitado teu lado paciente também. É difícil, né? Porém não é impossível. Não pra nós! Somos muito mais fortes agora, sabemos que não estamos sós. Juntamos forças. Somos imbatíveis, pois. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Fica muito mais fácil quando dividimos com alguém nossas agruras, nossos infortúnios... e ultimamente até as alegrias vieram pra roda, não é mesmo? Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Porque paciência é uma virtude.
*Trechos de Caio F.