Meu pai, fotografado pelo meu irmão em julho de 2009.
Lá está ele sentado num final de tarde ensolarado de inverno. Com sua camisa de lã uruguaia que a mim sempre pareceu um casaco. Mas ele afirma que é camisa. Com seus óculos de lentes fotocromáticas, que ele demorou a se convencer em usar.
Depois de tanto tempo, não me canso de olhar pra ele. Não canso de lembrar de toda a história de luta. Não esqueço das conversas e das filosofias simples que me acompanham pela vida. Do ciúme, da proteção e do mimo escancarado que até hoje se destinam a mim.
Não tenho como não admirá-lo. Força e fibra sempre foram suas companheiras. E a sensibilidade escondida em pequenas frases para não perder a macheza até hoje me comovem.
E essa mania de mexer nas mãos. Nessas mesmas mãos que já trabalharam duro (e ainda trabalham), que carregaram toda sorte de equipamentos e engrenagens, que já sofreram tantos cortes e ferimentos.
As cicatrizes estão todas lá. E arranham um pouco quando ele passa a mão no meu rosto pra fazer carinho. Assim como o peso de uma mão que muita enxada já ergueu muitas vezes é sentido naquelas brincadeiras inocentes que envolvem “tapinhas” e risadas.
Desconheces a tua força, pai. Desconheces a tua força. E aqui nem falo da tua força física mais. Falo da fortaleza que se instaura ao teu redor. Falo da garra em enfrentar os problemas de frente. Refiro-me à sensação de bem estar que tu passas só de ficar um pouco ao meu lado.
E agora tu ficas aí sentado, calmamente tomando sol, depois de mais um dia de ensinamento e aprendizado. E te deixa fotografar pelo teu filho caçula só porque ele gosta de brincar de ser fotógrafo. E te deixa descrever pela tua filha mais velha só porque ela gosta de brincar de ser escritora.
Por quê? Talvez porque nossos sonhos te realizem de alguma forma. Porque sempre priorizaste a nossa felicidade, independentemente do que a gente decidiu fazer/ser/inventar/experimentar.
Um pouco de ti está em mim, pai. As pessoas falam ser muito mais que ‘um pouco’. E o teu modo de respeitar as minhas escolhas faz com que eu te ame cada dia mais e mais. Não tenho muito que te dizer, além do que já te disse e digo em qualquer oportunidade que surge.
Pra hoje (09/03):Feliz aniversário, pai.Te amo pra caramba.Beijo meu.
* "Este é meu pai, meu amor maior." (relembrando minhas aulas de alemão)
8 comentários:
Felicidades sem fim!
Muitos anos de vida!
Vida longa ao seu pai!=)
Fiquei emocionada!
Beijos Tempestuosos!
Parabéns ao seu pai! E parabéns à vc! Não só por seu belo texto como por demonstrar através de um texto como esse o quanto és uma boa filha..
Beijão
Hallo, Mary!
Wie wunderschön. Ich liebte mein Vater genau so sehr... Also, zum Geburtstag deines Vaters, herzlichen Glückwunsch!
A propo, ich finde es super, daß du dein Deutsch übst!
Alles Gute... und bis bald!
Que orgulho, hein... E dos dois!
Gosto muito de escrever sobre as pessoas que amo na minha família, e fiquei emocionado com essa tua belíssima homenagem.
Ao mesmo tempo, que dádiva terei se, um dia, um filho meu sentir a metade do que tu sente pelo teu pai. Lindo demais.
Beijão!
Eu tenho muitas saudades do meu velho pai (era assim que ele se denominava para mim), meu amigo.
Parabens a voce, parabens a ele.
beijos
Aii que delícia saber que não são todas as pessoas que sentem vergonha de dizerem o quanto amam os pais! Tenho tanta dó dessas pessoas que tem vergonha de dizer o quanto ama os pais.
PArabéns para seu pai e parabéns pelo seu post foi emocionante!
beijão
Pois é moça...o meu está com 82 anos. Ainda lúcido, mas cambaleante ao andar, por excesso de peso, mas quem lhe negaria toda a comida que quer comer? Hoje lhe devolvo um pouco de cuidados, sem alarde e sutis, embora saiba que ele percebe.
Mas conserva o orgulho de quem ainda é patriarca. Ama seus descendentes, e negocia consigo mesmo, todos os dias, uma maneira de entregar-se finalmente aos cuidados de quem criou sem aparentar fragilidade. Quando me olha, sinto que analisa, e talvez, como a música do Cesar Passarinho, pergunte se talvez tenha feito alguém " igualzinho ao Pai ". Daqui há pouco será minha vez.
Beijo menina
E faça o seu saber que você o ama.
Mary, que lindo texto, que lindo presente de aniversário! Parabéns ao homem das mãos feridas e trabalhadoras que usa camisa-uruguaia-que-parece-casaco. hehe :) Lindas fotos; o sol dessa hora é bom, pelo menos me parece aqui - eu, que nem gosto de sol, hein.
Parabéns a esses filhos talentosos, of course. E um beijão nessa família bonita.
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